quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A GenÉtica precisa ter a ética em seu centro


A GenÉtica precisa ter a ética em seu centro, diz cientista
O livro GenÉtica: Escolhas que nossos avós não faziam discute os que os cientistas poderiam e não poderiam fazer com as pesquisas genéticas.[Imagem: Divulgação]


Com informações da Agência Fapesp
Valores da sociedade
As informações geradas pelos avanços da genética podem abalar alguns dos valores mais importantes da sociedade.
Com isso, torna-se necessária a reflexão sobre dilemas e questionamentos éticos criados pelos avanços na área, como a possibilidade de análise do genoma humano a um custo cada vez mais acessível.
O alerta é da geneticista Mayana Zatz, da Universidade de São Paulo (USP).
Mayana levanta o tema em seu livro recém-lançado: GenÉtica: Escolhas que nossos avós não faziam.
O título do livro foi caprichosamente grafado, para mostrar que a genética deve ter a ética em seu centro.
Ética da genética
"Acredito que as questões éticas que descrevo no livro serão cada vez mais relevantes para toda a população", disse Mayana.
O livro, cuja ideia surgiu de um bate-papo entre ela e o médico Drauzio Varella, reúne alguns dos conflitos vivenciados pela cientista e que levantam percalços legais e éticos decorrentes da genética.
"Cada vez mais é possível descobrir algo com o DNA. E o que é feito a partir dessa informação pode, ou não, ser benéfico. Há um vazio legal em diversas questões da genética, cuja discussão é importante", ressaltou.
GenÉtica é voltado tanto para especialistas que atuam nas áreas de genética e bioética como ao público geral.
Terra sem lei
Cada capítulo descreve uma nova situação, que tem por objetivo levar o leitor a refletir sobre o uso da informação genética e seus limites.
Ao todo, são 13 capítulos que abordam temas com questões conceituais que dificultam a aplicação de normas, como os princípios da privacidade e da confidencialidade, a escolha seletiva de embriões, a clonagem humana e os testes de DNA.
"As pessoas têm a impressão de que, para estudar o DNA, é preciso coletar o sangue. Mas deixamos nosso DNA por todo lado, como, por exemplo, no copo e nos talheres que usamos. A questão é: a quem pertence esse DNA?", disse Zatz.
Direitos negligenciados
No livro, a cientista cita como exemplo o caso do menino conhecido como Pedrinho, sequestrado em Brasília na maternidade. Na mesma época em que o caso veio à tona, suspeitou-se que Roberta, sua suposta irmã, também pudesse ter sido sequestrada por Vilma, mãe adotiva do menino.
"Porém, ao prestar depoimento na polícia, Roberta - que não queria saber se Vilma era ou não sua mãe verdadeira - descartou restos de cigarro. A partir da análise daquele material foi possível fazer o exame de DNA e confirmar que ela também não era a filha biológica de Vilma."
"E o direito dela de não querer saber? Vários juristas dizem que isso é perfeitamente legal, que aquele DNA não lhe pertencia mais", ressaltou Zatz.
Debate ético
A geneticista também chama a atenção para o debate ético sobre a identificação precoce de genes que aumentam a predisposição para doenças - entre as quais certos tipos de câncer, hipertensão e males cardíacos - e os impactos da seleção do sexo em larga escala, como na China e na Índia, onde a proporção de homens é maior que a de mulheres.
"Hoje discutimos sobre isso. Mas, em um futuro próximo, os casais poderão escolher uma criança com olhos de determinada cor, habilidades para esportes ou mais inteligente", disse.
A obra conta também com uma seção bibliográfica, para quem desejar se aprofundar nos temas abordados, e outra com explicações sobre os termos técnicos citados nos textos.
"O livro é para as pessoas notarem o que está acontecendo. Essa provocação é importante para mostrar a realidade, pois o que se fala na teoria é muito bonito, mas na prática a teoria é outra", afirmou.

Biólogos criam os primeiros cromossomos sintéticos

15/09/2011 - 09h16
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE



A era dos seres vivos sob medida ficou um pouco mais próxima hoje, com o anúncio de que cientistas nos EUA criaram os primeiros cromossomos ("novelos" microscópicos que abrigam o DNA) parcialmente sintéticos.
O feito dá mais peso aos planos de usar micro-organismos especialmente projetados para produzir biocombustível abundante e barato, fabricar plástico sem usar o petróleo como matéria-prima ou criar micróbios devoradores de poluição, entre outras possibilidades que ainda soam como ficção científica.


A viabilidade dessas ideias mirabolantes cresce graças à nova pesquisa porque o micróbio sintético é o fungo Saccharomyces cerevisiae, um velho conhecido da humanidade, usado como fermento biológico para pães ou para produzir vinho e cerveja. Leveduras parecidas com ele também são cruciais para a indústria do etanol, fermentando o caldo da cana. Mas mesmo os fungos mais adaptados ao uso industrial ainda deixam a desejar.
São "selvagens engarrafados", afirma Gonçalo Guimarães Pereira, que estuda organismos sintéticos na Unicamp. Segundo ele, é comum que, em plena safra de cana, as leveduras parem de realizar sua função quando estão sob estresse ou contaminadas. Com isso, a produtividade da usina acaba caindo.
Fabricar cromossomos inteiros desses organismos, a gosto do freguês, acabaria com essa "greve" das leveduras, aumentando muito a produtividade das usinas de etanol. E isso é só o começo.
Arte
Outros micróbios são capazes de produzir substâncias similares ao plástico ou de fabricar moléculas com potencial farmacêutico. Mas fazem isso em pequenas quantidades, porque seu organismo tem outras necessidades, ditadas pelo ambiente.
Um cromossomo artificial com os genes responsáveis por essas características vantajosas, inserido numa levedura industrial, poderia revolucionar a produção de matérias-primas.
Essa é a meta dos criadores dos cromossomos sintéticos, cuja existência foi revelada na edição eletrônica da revista científica "Nature".
Jef Boeke e seus colegas da Universidade Johns Hopkins querem criar uma levedura 2.0, com genoma totalmente sintético. Ainda estão longe de fazer isso: criaram artificialmente apenas pedaços de dois dos 16 cromossomos que o micro-organismo possui.
Eles também embutiram nos micróbios um sistema controlado de mutações, capaz de gerar novas variedades das criaturas apenas quando os cientistas fornecem um hormônio a elas.

Fonte: Folha.com - Ciência

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Especialista alerta para "ameaça dos algoritmos"

BBC - 23/08/2011
Serviços inteligentes
Um especialista em algoritmos alertou para as consequências da influência cada vez maior dos sistemas de códigos operacionais em diversos aspectos da vida das pessoas.
Em uma palestra durante a conferência TED no mês de julho, na Escócia, o americano Kevin Slavin disse que "a matemática que oscomputadores usam para decidir as coisas" está se infiltrando em diferentes áreas as nossas vidas.
Slavin disse que os "serviços inteligentes" oferecidos por lojas de internet - que calculam livros e filmes nos quais o cliente pode estar interessado -, por sites como o Facebook e pelos mecanismos de busca como o Google comprovam que operações computacionais complexas e invisíveis controlam cada vez mais a relação das pessoas com o mundo eletrônico.
Como exemplos, ele citou um "robô-faxineiro" que mapeia a melhor maneira de realizar os afazeres domésticos e os algoritmos que estão gradualmente controlando os negócios em Wall Street e o mercado financeiro.
"Estamos escrevendo coisas que não podemos mais ler", alertou o especialista. "Nós criamos algo ilegível e perdemos a noção do que realmente está acontecendo no mundo que criamos", disse ele.
Livro milionário
De acordo com Slavin, o caso recente de erro nos algoritmos usados pela livrariaonline Amazon é um dos principais exemplos do caos que pode ser instalado quando um código se torna inteligente o suficiente para operar sem a intervenção humana.
No início do ano, o algoritmo que regula os preços da loja de livros pareceu entrar em guerra consigo mesmo.
Os valores dos produtos começaram a aumentar em competição uns com os outros e um dos livros, The Making of a Fly (A construção de uma mosca, em tradução livre) - um livro sobre a biologia molecular de uma mosca - chegou a custar US$ 23,6 milhões (R$ 37,7 milhões).
Slavin afirma que, na medida que os códigos matemáticos se tornam mais sofisticados, eles se infiltram até mesmo em nossas preferências e decidem que produtos culturais estarão disponíveis para nós.
Decidindo as vidas virtuais
A empresa britânica Epagogix está levando este conceito a sua conclusão lógica e usando algoritmos para prever o que faz com que um filme seja um sucesso de bilheteria.
O sistema usa uma série de medidas - o roteiro, a trama, os atores, as locações - e os cruza com as bilheterias de outros filmes similares para prever quanto dinheiro o novo produto irá ganhar.
De acordo com o diretor-executivo da empresa, Nick Meaney, o código "ajudou estúdios a tomarem decisões sobre fazer ou não fazer um filme".
No caso de um dos projetos - para o qual foi estipulado um custo de produção de 180 milhões de libras (R$ 473 bilhões) - o algoritmo estimou que o filme ganharia somente cerca de 30 milhões de libras nas bilheterias, o que significava que não valia a pena fazê-lo.
No entanto, Meaney diz que o papel dos algoritmos na indústria cinematográfica não é tão grande.
"Filmes são feitos por diversas razões e dizer que nós ditamos que filmes são feitos nos dá mais influência do que temos", disse.
Negócios automáticos
De acordo com Kevin Slavin, até 70% das transações de Wall Street hoje são conduzidas por algoritmos, no que é chamado de "caixa-preta" ou "algo-negócio".
Isso significa que, além de negociantes especializados, banqueiros e corretores agora empregam também milhares de matemáticos e físicos.
Mas Slavin diz que, mesmo com o auxílio de técnicos e especialistas, um algoritmo fora de controle foi o responsável pela chamada "quebra-relâmpago" do dia 6 de maio de 2010, em que uma queda de cinco minutos nas bolsas de valores causou um caos momentâneo.
Um negociador que agiu de má-fé foi considerado o culpado pela queda de 10% no índice Dow Jones mas, na realidade, a culpa era do programa de computador que ele estava usando.
O algoritmo vendeu 75 mil ações com um valor de 2,6 bilhões de libras em somente 20 minutos, fazendo com que outros sistemas de negociação rápida fizessem o mesmo.
A partir deste episódio, os reguladores foram forçados a introduzir mecanismos que interrompem as negociações se as máquinas começarem a se comportar de modo incorreto.
Para Slavin, na medida que os algoritmos expandem sua influência para além das máquinas, é chegada a hora de saber exatamente o que eles sabem e se ainda há tempo de domá-los.
Fonte: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=ameaca-dos-algoritmos&id=010150110823&ebol=sim